Distribuição das actividades no tempo

A jornada do jardim-de-infância é constituída por duas etapas de configuração distinta.

A etapa da manhã centra-se fundamentalmente no trabalho ou na actividade eleita pelas crianças e por elas sustentada desconcentradamente pelas áreas de actividade, com o apoio discreto e itinerante do educador. A etapa da tarde reveste a forma de sessões plenárias de informação e de actividade cultural, dinamizadas por convidados, pelos alunos ou pelos educadores.
 
A organização do dia desenrola-se, portanto, em nove momentos distintos:
1. Acolhimento
2. Planificação em conselho
3. Actividades e projectos
4. Pausa
5. Comunicações (de aprendizagens feitas)
6. Almoço
7. Actividades de recreio (canções, jogos tradicionais e movimento orientado)
8. Actividade cultural colectiva
9. Balanço em conselho
 
O acolhimento destina-se a concentrar todas as crianças em torno de uma primeira conversa, participada por todos e animada pelo educador, depois do registo de presenças, a partir das coisas ouvidas ou vividas pelas crianças, que o educador vai registando rapidamente e que poderão mais tarde ser passadas a limpo e constituírem textos para serem expostos na oficina de escrita. E a partir dessa primeira conversa de acolhimento que se passa à planificação das actividades e dos projectos, seguindo as sugestões levantadas no acolhimento ou no balanço feito no dia anterior, na coluna das “sugestões” do Diário do grupo, ou pela escolha directa no Plano de Actividades.
Em pequenos grupos, ou individualmente, as crianças escolhem e registam as actividades ou os projectos de trabalho que explicitaram e o educador registou, e avançam, autonomamente ou com a colaboração dos companheiros, para as acções que se propuseram realizar (fig. 2).
 
O educador apoia discretamente o arranque das actividades, regressando por algum tempo à área polivalente. Aí poderá secretariar algumas crianças que têm textos para dizer ou descobertas a revelar e que o educador desafia para novas descobertas (“ai de vai também está aqui em pai”, etc.). E um bom tempo de apoio à língua e às descobertas lógico-matemáticas (que integramos na língua) para os mais motivados ou para os que precisam de maior apoio. O educador voltará, logo que possa, a circular pelas áreas estimulando as actividades, ou harmonizando um conflito, e aproveitando para registar no Diário um juízo seu ou da iniciativa de um aluno.
 
 
A pausa da manhã é de cerca de meia hora e envolve, normalmente, uma refeição de fruta e o recreio livre.
 
Após um momento de arrumações e limpezas, todos voltam à área polivalente, por meia hora, para a comunicação de coisas descobertas e aprendidas durante as actividades da manhã. Este curto tempo antes do almoço é destinado para algumas crianças darem informações ou ensinarem coisas que aprenderam. E com tal momento de alto significado social e formativo que se encerra o ciclo de actividades e de projectos. Por isso, só algumas crianças, as que completaram trabalho, vão alternando diariamente no tempo de comunicações.
 
Vem então a preparação para o almoço: lavar as mãos e pôr a mesa.
 
O almoço, servido com a ajuda das crianças, constitui um momento importante de autocontrolo e de formação social. Após o almoço as crianças voltam a lavar-se. Seguem então para o recreio orientado, de uma hora, alternado com o período de repouso dos que precisam da sesta e a fazem autonomamente. As actividades de recreio integram rotativamente canções, jogos tradicionais e ciclos de movimento orientado. A seguir, reencontram-se, na área polivalente, para um tempo de animação colectiva, os que repousaram e os que estiveram no recreio. O dia termina com um balanço da jornada educativa. E um ponto de situação indispensável.
 
A actividade cultural em colectivo, na parte da tarde, segue normalmente um modelo comum aos educadores da Escola Moderna. Nas segundas-feiras, é a “hora do conto”. O educador lê e as crianças dão opiniões, acrescentam coisas ou contam contos seus por associação. Nas terças-feiras, vêm os pais contar coisas das suas vidas, mas podem convidar-se outras pessoas que sabem coisas que se prendem com os projectos que se estão desenrolando. Nas quartas-feiras, faz-se o relato e balanço da visita de estudo da manhã. Nas quintas-feiras, é a tarde de iniciativa das crianças: pode completar-se a correspondência; concluir o jornal; fazer uma conferência; representar uma história ou exprimir uma ideia composta no “faz de conta”. Nas sextas-feiras, é a altura de reunir em conselho para o educador ler cada coluna do Diário. Discutem-se brevemente, mas com solenidade, os juízos negativos (dando a palavra a cada um dos implicados): clarificam-se as posições, mas evita-se a violência de um julgamento. Aplaudem-se as pessoas implicadas pelos juízos positivos. Tomase consciência das realizações significativas e orientam-se as sugestões para compromissos a assumir e acções a agendar a partir da segunda-feira seguinte ou em dia aprazado a curto termo.

É geralmente a partir da reflexão sobre os juízos negativos (“não gosto que o João dê pontapés” ou “não gosto que a Laura me suje as pinturas”, etc.) que se constroem regras de convivência, que constituem as listas de decisões tomadas em conselho e que são fixadas na parede enquanto leis do grupo, a seguir democraticamente e só revogáveis em conselho. E a dimensão instituinte do conselho enquanto órgão de regulação formadora.

É também no conselho das sextas-feiras que se avaliam as responsabilidades assumidas semanalmente, a partir da sessão de planeamento das segundas-feiras, pelas crianças que asseguram, rotativamente, a manutenção da sala, a distribuição da fruta na pausa da manhã, o apoio ao almoço ou outras tarefas de cooperação educativa.
 
O conselho deve ser dinâmico e curto para sustentar o interesse de um grupo tão jovem e diversificado. Ao longo do ano e progressivamente, hão-de retomar-se os temas e conflitos recorrentes.

A necessidade de explorar colectivamente textos das crianças para o seu enriquecimento e para a descoberta de regularidades na estrutura da escrita e nas relações grafia-fonia, por exemplo, fez incluir este trabalho sobre os textos numa das tardes. Algumas educadoras fazem alternar, por isso, esta actividade colectiva com outra num determinado dia da semana. Outras, porém, fixaram-na na quinta-feira e as actividades da iniciativa das crianças passaram a alternar nas terças-feiras com os convidados.

Convém sublinhar que o grupo de cada sala sai com o educador, um meio dia por semana, geralmente a meio da semana, às quartas-feiras, em visita de estudo que constitui uma oportunidade para recolher informações e realizar inquéritos decorrentes de problemas ou temas tratados em projectos de estudo. Os dados colhidos inspiram muitas vezes projectos novos. As saídas sistemáticas em estudo são a forma mais eficaz de estabelecer e garantir uma ligação constante com o meio envolvente da escola e de assegurar a colaboração da comunidade no alargamento dos conhecimentos das crianças. Convém assegurar a devolução dos resultados dos pequenos estudos e das ideias encontradas pelo grupo para solucionar alguns problemas (facilitação de acessos, parques degradados, etc.) através da afixação de painéis ou da exposição de trabalhos abertos à comunidade. Muitas formas de
interpelação e até de intervenção na comunidade poderão ser alimentadas por estas ligações semanais ao quotidiano da vida das populações de origem. Alguns educadores da Escola Moderna têm ido bem mais longe, transformando os seus jardins-de-infância em pólos de reforço da identidade cultural e de desenvolvimento activo das comunidades.

A estabilização de uma estrutura organizativa, uma rotina educativa, proporciona a segurança indispensável para o investimento cognitivo das crianças. Há, porém, dias em que tudo se subverte: certas ocorrências são tão significativas para a vida do grupo que se impõe, de vez em quando, quebrar a agenda de trabalho para assegurar o valor formativo dessas  ocorrências, sejam elas a preparação das festas, a organização de uma visita ou até a resposta aos “correspondentes” do grupo.