Nas mãos há bactérias «residentes», que existem nas camadas profundas da pele e no interior dos folículos pilosos, e que têm funções importantes na prevenção da colonização com outras bactérias que podem causar danos. Estas bactérias residentes raramente causam doenças, a não ser que sejam introduzidas traumaticamente nos tecidos, ultrapassando as barreiras naturais. Não são removidas com a lavagem simples das mãos, sendo necessário recorrer à ação química de um antisséptico.
Os micróbios transitórios são adquiridos através do contacto da criança com o ambiente. Têm um tempo de sobrevivência curto mas um elevado potencial para causar doença, sendo facilmente transmitidos por contacto físico. Podem ser rapidamente removidos por lavagem das mãos com fricção mecânica e sabão ou ser destruídos por aplicação de um antisséptico. Portanto, a lavagem das mãos com água e sabão remove a flora transitória, mas não mata a flora residente, que é o que se deseja no dia-a-dia e em nossas casas e infantários. Uma lavagem das mãos bem-feita, e nos momentos em que deve ser, poderá impedir três dos principais modos de transmissão de doenças: fecal-oral, contato indireto com secreções respiratórias e contacto direto com fluidos corporais. Nestes tipos de transmissão englobam-se praticamente todas as doenças que os nossos filhos têm no dia-a-dia.
COMO LAVAR ADEQUADAMENTE AS MÃOS
Nem sempre é possível seguir todos os passos que abaixo indico. No entanto, há que fazer esforços para que a lavagem das mãos seja tendencialmente bem-feita. Estas são normas internacionais e uma coisa é certa: quanto mais nos aproximarmos deste padrão e o introduzirmos na prática dos nossos filhos, menos infeções eles terão.
Uma lavagem correta das mãos deve cumprir os seguintes passos:
1. verificar se existe papel de secagem das mãos;
2. colocar a água a uma temperatura confortável (≥ 15ºC e ≤ 45ºC);
3. molhar as mãos com água e aplicar sabão; 4. esfregar as mãos vigorosamente até aparecer espuma e continuar durante pelo menos 10 segundos. Esfregar as mãos entre os dedos, leitos das unhas, debaixo das unhas e na palma das mãos;
5. passar as mãos pela água corrente quente a uma temperatura confortável (mais de 15ºC e menor 45ºC), até estarem livres de sabão e sujidade. Deixar a água correr enquanto se vai secar as mãos;
6. secar as mãos com papel disponível ou toalha de uso único limpa;
7. se a torneira não fecha automaticamente ou se não tem mecanismo de fechar com o braço, fechar envolvendo as mãos com o papel ou toalha;
8. colocar o papel no contentor do lixo ou a toalha no cesto da roupa. Usar loção de mãos hidratante, se necessário, para prevenir a formação de fissuras na pele.
Cada um destes passos é importante. A água corrente remove os detritos, incluindo os microorganismos que causam as infecções. Molhar as mãos antes de colocar sabão ajuda a criar uma espuma que destaca mais facilmente os detritos. Passar a espuma por água remove a sujidade das mãos que estava em solução. Usar água à temperatura referida, apesar de não ser essencial à remoção de microrganismos torna a lavagem mais fácil, pois é mais confortável do que água fria.
Os sabões mais suaves provocam menos secura mas também lavam pior. Digamos que, na maioria das situações, não será necessário um sabão mais forte. Contudo, quando a criança mexe em excrementos de animais, em terra ou em qualquer produto que possa estar infectado, a lavagem terá que ser feita com um sabonete mais agressivo, mesmo que a pele fi que mais seca – utilizar-se-á depois um creme hidratante, para compensar.
Nos infantários e jardins infantis (e até em casa) é desejável o uso de sabão líquido pois embora o sabão sólido, por si, não esteja implicado na transmissão de bactérias, ao ficar emerso em água – seja na saboneteira, seja no lavatório – pode ficar contaminado com pseudomonas e outras bactérias, para além de muitas crianças não terem destreza para o manusear.
SECAR AS MÃOS
É fundamental secar bem as mãos, por várias razões:
● ajuda a prevenir as fissuras das pele;
● reduz a contaminação das mãos (as mãos molhadas contaminam-se mais facilmente);
● remove algumas bactérias e vírus.
Vários estudos foram efectuados para verificar os graus de eficiência de diferentes agentes de secagem na redução de batérias e vírus. Por ordem decrescente de eficiência situam-se: secador eléctrico, rolo de papel e por último o rolo de toalha. Os secadores
elétricos das mãos não devem ser usados pelas seguintes razões: muitas pessoas não secam as mãos adequadamente, acabando de secar na roupa, onde apanham mais bactérias; os próprios secadores podem acumular bactérias e servir para as depositar nas mãos.
COMO ENSINAR A LAVAR AS MÃOS E INCUTIR O HÁBITO?
A lavagem das mãos é um comportamento aprendido. Para ser efetiva, uma correta lavagem das mãos deve ser ensinada, com tempo e calma, tal como a escovagem dos dentes ou qualquer outro comportamento que necessite de aprendizagem de regras, passos, rigor e exercitação. É bom que, paralelamente a uma aprendizagem das regras de lavagem, por forma a que sejam instintivas, se faça também ver às crianças que não se trata de um «frete» a fazer aos pais, ou um bilhete para poder ir para a mesa, mas sim uma rotina diária que deverá manter ao longo da vida. É bom que os pais expliquem que há pele, unhas, bactérias que se escondem, bactérias «boazinhas» que sofrem se as «más» puderem crescer, e tantas outras brincadeiras do «Senhor Sabão» e da «Dona Água». As noções de «quando», «como» e «porquê» da lavagem das mãos devem ser ensinados desde cedo e fazer parte de uma educação continuada e responsável. O exemplo dos pais é muito importante, e pais que não lavam as mãos ou que as lavam a correr não conseguirão incutir esse hábito nas crianças. Os padrões de comportamento de lavagem de mãos começam a ser interiorizados com a educação para a utilização da sanita e consolidam-se por volta dos 9-10 anos. O comportamento ritualizado de reação à sensação de repugnância gerada pela sujidade das mãos é interpretado como um mecanismo de autodefesa contra a infecção. É, contudo, subjetivo e insuficiente para a manutenção de níveis óptimos de proteção contra os agentes microbianos. Desta forma, o comportamento de higiene das mãos revela-se em dois tipos: o inerente (em reação à sensação de sujidade) e o eletivo (não associado à sensação de sujidade). Este último, que pode ser exemplificado com a lavagem das mãos após o contacto com uma pessoa doente, encontra-se menos enraizado na população. Inicialmente, a aprendizagem deve ser feita pelos pais ou encarregados de educação. Numa fase posterior intervêm também os infantários e jardins infantis, os professores e os colegas.
Almeida M, Certal V, Klut C, Mota C, Picoto M e Cordeiro M, 2007
Departamento de Saúde Pública – Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa
Lavar as Mãos