A importância do jogo e Expressão dramática na Educação para os Valores

Artigo de opinião por Vânia Dias

Tendo em conta as orientações curriculares no âmbito da área de formação pessoal e social, é pretendido que se possa favorecer na criança a aquisição de espírito crítico, a interiorização de valores espirituais, estéticos, morais e cívicos, tendo em conta as suas fases de desenvolvimento. Partindo da ideia de que é através da interação com os outros que a criança aprende, a família assume aqui um papel preponderante na transmissão de valores. É na Família e do meio social em que a criança se vê inserida os primeiros anos de vida que a criança inicia o seu desenvolvimento pessoal e social, constituindo a educação pré-escolar um contexto educativo mais alargado que vai permitir às crianças interagir com os outros adultos e que têm, possivelmente valores diferentes também dos seus, que interiorizou das suas vivências provenientes do seu meio de origem. Ao possibilitar-se a interação com diferentes valores e perspectivas, a educação pré-escolar constitui um contexto favorável para que a criança vá aprendendo a tomar consciência de si e do outro. Desta forma, a educação pré-escolar tem um papel importante ma educação para os valores. 11 Estudos realizados sugerem que as crianças em idade pré-escolar já expressam reações negativas relativamente a alunos e grupos étnicos (www.wook.pt).

Deste modo, o educador poderá utilizar como estratégia recursos a livros, histórias que façam referência ou que representam a diversidade étnica e cultural existente na nossa sociedade. A falta de compreensão é a primeira causa dos preconceitos, o racismo e a empatia podem ser trabalhados em contexto escolar de variadíssimas formas, entre as quais a expressão dramática poderá assumir um papel fundamental. Os conteúdos e os métodos de ensino devem sempre visar entre outros objetivos: o criar da compreensão e interesse por diferentes ambientes, sociedades, sistemas e culturas; bem como o saber colocar-se no lugar do outro em variadas situações do dia a dia, estimulando a empatia.

Visto que, segundo Wallon, nesta fase da vida da criança, ela ainda se mantém “profundamente inserida no meio familiar” onde, “as suas relações com a família, o lugar que ocupa entre os irmãos e irmãs fazem parte da sua própria identidade pessoal” (Tran-Thong.1967.p.208).

Para Piaget, o teatro é classificada como o jogo simbólico de excelência no pré-escolar. “O jogo pode ser deferido, de uma maneira geral, como o conjunto de atividades às quais o organismo se entrega, principalmente pelo prazer da própria atividade”. Este refere ainda que “o jogo é a construção do conhecimento”. “ A segunda implicação pedagógica que extraímos da concepção evolucionista e biológica de Piaget é que o jogo espontâneo da criança deverá ser o primeiro contexto no qual os educadores encorajam a utilização da inteligência e da iniciativa. O jogo dá às crianças uma razão intrínseca para o exercício da sua inteligência e da sua curiosidade” (Piaget.2003.p.p26,27,29).

Herbert Read defende que a arte deve ser a base da educação, este concebe as artes como o método mais eficaz para se efetuar a educação, propondo o jogo, a espontaneidade, a inspiração e a criação como objetivos imediatos de uma intervenção lúdico-expressiva-criativa que envolve o drama, a dança, a música, a plástica, a verbalização e a escrita.

A expressão dramática é considerada por Herbert Read como um dos melhores métodos educativos, esta é fundamental em todos os estádios da educação, é uma das melhores atividades. 

“A expressão dramática é um retirar de máscaras, é estabelecer o equilíbrio entre o mundo exterior e o mundo interior de cada homem, ou seja, é harmonizar a vida social e a essência do homem…” (Sousa,2003.p.20) A expressão dramática permite às crianças «exercerem-se, falarem das suas angústias,
frustrações, recalcamentos, desejos e a criarem empaƟa com os senƟmentos e vivências dos outros. Os exercícios servem para se encontrarem a eles próprios e com os outros. «Encontrando-me comigo, encontro-me com os outros.» (Sousa, 2003,p.21)

Em expressão dramática a criança pratica aspetos da vida, faz funcionar estruturas interiores emocionais muito importantes, está a desenvolver-se ao nível do domínio da ligação dos fenómenos imaginação/ação.
Os jogos dramáticos proporcionam à criança o meio de exteriorizar, através do movimento e da voz, os seus sentimentos profundos e as suas observações pessoais, e têm por objetivo aumentar e guiar os seus desejos e possibilidades de expressão. Estes, são uma atividade lúdica que é própria e natural na criança, surgindo espontaneamente e através da qual ela pode livremente expressar os seus sentimentos, dar ampla vazão à imaginação criativa, desenvolver o seu raciocínio prático, desempenhar no faz-de-conta os mais diversos papéis e usar o seu corpo através de diferentes movimentos. Assim, é uma atividade educativa, que ao mesmo tempo proporciona o mais amplo esơmulo no desenvolvimento dos fatores afetivos, cognitivos, sociais e motores da personalidade da criança.

O jogo dramático é um dos melhores, senão o melhor, método educacional voltado para o desenvolvimento equilibrado da personalidade da pessoa; segundo a minha opinião enquanto Educadora.
Baden-Powell compreende o seu grande valor educativo, incentivando, ampliando e desenvolvendo este tipo de jogos. Segundo ele, «as crianças são fabulosas em imaginação, amam a ficção mais do que lhes possa convir. As representações dramáticas são um dos melhores meios de evolução da criança. Elas desenvolvem não apenas a faculdade de imitação que possuem naturalmente, mas o seu espírito e também a sua fantasia, e tudo o que contribui para o desenvolvimento do seu caráter.

Em termos de aprendizagem por parte dos alunos e diz a psicologia que se aprende melhor fazendo e experimentando do que apenas ouvindo, assim considero importante procurar realizar através de jogos dramáticos, o proporcionar de oportunidades das crianças colocarem em prática o vivenciar de situações de experimentação fictícia de variadas realidades, no sentido de reforçar as suas lições dirigidas para o aprender de conceitos e valores, melhorando o seu conhecimento, e todo o leque de aprendizagens que daí podem retirar; já referidos acima: o fomentar da curiosidade, imaginação, aumento do vocabulário e expressividade, a criatividade, a tomada de consciência de valores ético-morais e estéticos, ao mesmo tempo que ajuda nas relações sociais, a empatia, entre muitos outros.

Para as crianças maiores, Bade Powell propõe dar o enredo de uma cena curta e simples e distribuir os papéis, indicando a cada um qualquer coisa que ele deve dizer ou fazer, depois deixá-los jogar livremente e encontrar as palavras necessárias por eles mesmos. Isto desenvolve a imaginação e a facilidade de se exprimirem progressivamente melhor.

Em termos de conclusão do meu relatório de opinião acerca deste tema, posso referir que por meio da minha experiência pessoal com alunos e da minha constante e atenta observação, é através da expressão dramática que a criança melhor se experimenta a si mesma, vivência toda a sua imaginação, os seus
sonhos, fantasias e até os seus medos; provando a si própria as suas capacidades de transformação e de~se imaginar em diversas situações; permitindo-lhes uma franca expansão nas suas necessidades de expressão e na criação de ferramentas úteis para o seu dia a dia no decorrer dos seus relacionamentos
sociais. «Pela expressão dramática, a criança pode realizar-se, criando tudo o que quiser num mundo que é só seu, imaginando por si e onde é soberana, podendo desempenhar todas as funções e realizar tudo quanto desejar. A criança engrandece-se, satisfaz-se, cria potencialidades e desenvolve a sua
personalidade. (…) Para P. Slade, “aspetos tão importantes como a autoconfiança, auto-conceito e independência, são adquiridos através do jogo e especialmente através do drama infantil” (…). “Pelo seu grande valor de envolvimento emocional, pelo seu poder de contar histórias e acontecimentos, de
comunicação social, de crítica, de formação e de informação, desde há alguns séculos que tanto vários pedagogos como homens do teatro têm chamado a atenção para a valiosa contribuição que o teatro poderia proporcionar à educação”. (Sousa,2003,p.p.37,40,81)

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